A pessoa humana é para o mundo
É na saída de si e na busca, no encontro pelo outro, por amor, que a vida acontece
No dia 8 de outubro de 1967, São Josemaria Escrivá proferiu uma histórica homilia durante a celebração da missa no campus da Universidade de Navarra, em Pamplona, na Espanha. Posteriormente a pregação foi publicada como livro em diversos países. No Brasil, a editora Quadrante a publicou com o título “Amar o mundo apaixonadamente”.
Logo de início, o monsenhor Escrivá alerta-nos acerca de uma “visão deformada”, ainda presente na atualidade, de que o cristianismo está à margem da história humana, de que a vida cristã não se mistura com o mundo.
Viktor Frankl, nas 10 teses da pessoa humana, afirma que o ser humano não admite divisões, recortes, ele é unidade. Frankl explica que o homem é um ser tridimensional, possui a dimensão biológica, psíquica e noética/espiritual. Olhar a pessoa humana sob a perspectiva apenas de uma das dimensões é desumanizá-la.
Tal como o sacerdote espanhol afirma, colocar o cristianismo à margem é uma atitude errônea, pois nega um aspecto natural da pessoa humana, sua religiosidade, assim como desconsidera que o homem é um ser espiritual. O ser humano tem religiosidade, justamente, porque tem a dimensão noética.
Em sua pregação, São Josemaria nos diz que é indo ao encontro, saindo ao mundo, no cotidiano, servindo a Deus e aos homens, que o cristão deve se santificar. Deus, afirma Escrivá, nos chama a servi-Lo em nossas tarefas do dia a dia. Há algo maior, algo santo, transcendente, presente nas situações rotineiras que devemos descobrir.
Novamente podemos ver uma consonância entre as afirmações do sacerdote com os pensamentos do psiquiatra vienense. Frankl nos alerta que o homem deve sair para encontrar o que é a vida. Deve sair de si mesmo, ir ao encontro do mundo. Ao afirmar que “a pessoa humana é transcendente”, mostra-nos que a vida deve ser gasta, ofertada por alguém, por algo. Em uma atitude autotranscendente, o homem deve sair de si mesmo e direcionar-se para alguém/algo por amor.
Frankl expressa que o homem apenas realiza-se esquecendo de si, entregando-se, preocupando-se com o outro. A pessoa humana é para o mundo, é na saída de si e na busca, no encontro pelo outro, por amor, que a vida acontece.
São Josemaria, durante a homilia, afirma que tentar separar a vida espiritual, de relação com Deus, da vida social, de relacionamento com outras pessoas, é tentar ter uma vida dupla. Existe apenas uma vida, evoca-nos o sacerdote, somos: carne e espírito. É esta vida, na alma e no corpo, que deve ser “santa e plena de Deus.”
Do mesmo modo, Frankl condena esta dicotomia e ensina-nos que a pessoa humana é o centro espiritual em torno do qual se agrupa o psico-físico. Somente em suas três dimensões (biológica; psíquica; espiritual) revela-se a totalidade humana.