Morte: um chamado ao verdadeiro sentido da vida
Destino inevitável do homem, a finitude de sua existência é amplamente abordada pela teologia e religião. Assim como tudo termina, também nós somos peregrinos neste mundo. (Bento XVI, 2008). Afirma Bento XVI (2006), “a morte priva-nos de tudo aquilo que é terreno”, é o momento em que o homem é chamado do tempo presente para a eternidade.
O termo da vida torna todos os homens semelhantes. Diz Santo Afonso de Ligório (2022, p. 50), não se sabe se uma criança irá tornar-se rica ou pobre, se terá boa ou má saúde ou, se irá morrer jovem ou idosa, porém é certo que irá morrer. “É certo, pois, que todos estamos condenados à morte.”
Na perspectiva da morte se está diante de um paradoxo: não se deseja morrer, também não se almeja uma vida infindável. De fato, a imortalidade, afirma Santo Ambrósio (378 apud Bento XVI, 2007, p. 22), “seria mais penosa que benéfica, se não fosse promovida pela graça.”
Na realidade, deseja-se a vida verdadeira, a vida que não é tocada pela morte. Esta realidade para a qual a pessoa humana é atraída, é a vida eterna. Ao mesmo tempo em que se é impelido por esta verdade, ela também causa temor:
“Com efeito, ‘eterno’ suscita em nós a ideia do interminável, e isto nos amedronta; ‘vida’, nos faz pensar na existência por nós conhecida, que amamos e não queremos perder, mas que frequentemente nos reserva mais canseiras que satisfações, de tal maneira que, se por um lado a desejamos, por outro não a queremos. (Bento XVI, 2007, p. 23)
A saída para este enigma, diz Bento XVI, é não ser escravo da temporalidade; entender que a eternidade não é “uma sucessão contínua de dias do calendário”, mas o instante “onde a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade.” (Bento XVI, 2007, p. 23)
Por vezes considerada maldição, a morte deve ser vista pelo cristão através da fé. Cristo por sua Morte e Ressurreição abre as portas da vida eterna ao homem. “Então a morte abre-se à vida, àquela eterna, que não é uma cópia infinita do tempo presente, mas algo completamente novo.” (Bento XVI, 2012) Somente Aquele que é o Senhor da Vida, pode indicar este caminho para além da finitude terrena. (Bento XVI, 2007)
Diante da inevitabilidade de seu destino, afirma João Paulo II (1998), o homem busca encontrar o sentido de sua vida. Deseja conhecer sobre sua finitude. Saber se a morte será, de fato, o fim de sua existência ou se pode ter a esperança de uma vida subsequente.
Refletir sobre a finitude da vida, recorda o santo polonês, pode ser um convite a procurar o verdadeiro sentido da existência. (JOÃO PAULO II, 1998) Conforme ressalta Bento XVI (2008), este caráter efêmero da vida, é um chamado para que não se detenha a “viver de modo medíocre”, mas se apresse para a “plenitude da vida.
Trecho do artigo “A morte como possibilidade de despertar o sentido da vida: uma abordagem logoterapêutica”
Disponível em: https://educafoco.italo.br/index.php/educafoco/article/view/167
Referências
BENTO XVI. Capela Papal em sufrágio dos cardeais e bispos falecidos durante o ano. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2012. Disponível em: www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2012/documents/hf_ben-xvi_hom_20121103_suffragio.html. Acesso em: 2 mar. 2023.
BENTO XVI. Homilia do Papa Bento XVI na Concelebração Eucarística em sufrágio dos cardeais e bispos falecidos no último ano. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2006. Disponível em: www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2006/documents/hf_ben-xvi_hom_20061104_defunti-2006.html. Acesso em: 2 mar. 2023.
BENTO XVI. Santa Missa em sufrágio dos cardeais e bispos falecidos durante o último ano. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2008. Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2008/documents/hf_ben-xvi_hom_20081103_suffragio.html. Acesso em: 2 mar. 2023.
BENTO XVI. Spe salvi: sobre a Esperança Cristã. São Paulo: Paulus. São Paulo: Loyola, 2007.
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Fides et Ratio. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1998. Disponível em: www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_14091998_fides-et-ratio.html. Acesso em: 2 mar. 2023.
LIGÓRIO, A. M. de. Preparação para a morte: considerações sobre as verdades eternas. Tradução Celso Cunha e Nicholas Phillip. Rio de Janeiro: Ed. CDB, 2022.